Arte é uma criação única que encontra na ideação
do belo o sentido mais nobre da obra criada.
Um museu como este, pressupõe muito mais que uma simples exibição das obras que o compõem. Para além da tela, existe uma mensagem virtual contida na vida dos artistas, da sua obra e do mundo em que viveram, levando o espectador a refletir sobre o ambiente desfavorável, por vezes até hostil, do qual suas obras brotavam.
Os artistas que ora apresentamos, nasceram nos primórdios do séc. XX, vindo a atingir o apogeu artístico por volta dos anos 50. Enquanto que, a maioria dos artistas plásticos tentava livrar-se da tendência acadêmica, acompanhando os modernos movimentos da Europa, e influenciadas pela Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, surgiram casos isolados de outros, completamente alheios à nova tendência, permanecendo fiéis aos seus ideais de arte, apesar de repudiados pela crítica e, consequentemente, relegados a um plano menor por parte do público. Propiciava-se então, a necessidade de criar dentro do já “criado”, esmerando-se na qualidade pictórica de uma forma incontestável – esta era, a única alternativa de sobrevivência para estes artistas. Destarte, surgiram nomes como Oehlmeyer, Baroni, Scavone e muitos outros, “produzindo” arte para eles próprios.
Nos últimos 30 anos, ou pouco mais, com a “saturação” das tendências vanguardistas e menosprezo pelas técnicas dos grandes mestres do passado, como: desenho, composição, claro-escuro e pincelada, voltou a despertar interesse a arte realista e, com ela, a consagração destes artistas que a História esqueceu! A certeza de suas “pinceladas” era tão grande, que certa vez, levou Oehlmeyer, homem austero e de poucas palavras, a dizer: “O que é bom fica, o que não o é, passa”.
A polêmica em torno daquilo que a Arte é, levou muitos à dúvida, a questionamentos sem respostas, ao abandono de vários “ismos” e até à completa desorientação. No entanto, para este grupo de “marginalizados”, parece nunca ter havido a menor vacilação a respeito daquilo que consideravam verdadeira Arte.
Tal era o afinco na realização de uma obra, que ninguém melhor que Aliberto Baroni, apesar de daltônico, exprimiu a pobreza, o sofrimento humano e a caridade. Edgard Oehlmeyer, tido como um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos, e desenhista – sumário nos traços e detalhista nas “palavras”. Amedeo Scavone, mestre de Baroni, Oehlmeyer, Aldo Bonadei e Gilberto Marchi; único na “pintura” do desenho, valendo-se do esfuminho. Em não tendo com o que pagar aos modelos servia-se do pai e do sobrinho, este último, ainda vivo, revelando sempre novas expressões dos mesmos personagens. Luíz Dadalti, no difícil empreendimento dos nus, na pintura de gênero e nos retratos. Dario Mecatti, notável nas cenas árabes, virtuoso nos Macchiaioli, evoluindo até ao abstracionismo em uma linguagem inteiramente pessoal e inconfundível. Sua capacidade de síntese era tão apreciada, por parte de outros artistas, que muitos lhe seguiram os passos. Manlio Moretto, “O mestre do paisagismo brasileiro”; traço rápido, nervoso e maduro, esculpido em uma composição de inusitada beleza plástica. Percorre o Brasil, de lês a lês, registrando a paisagem bucólica de lugares perdidos no tempo.
Walter Introini, desconhecendo a existência destes artistas, até pela grande diferença de idade, revela-se, no entanto, com qualidade e valores equivalentes à de seus antecessores. Autodidata e polivalente dedica-se à pintura de cidades ao estilo hiper-realista, e também, retratos, figuras, cidades imaginárias futuristas e abstrações.
Egas Francisco, dando largas à imaginação, surpreende com suas figuras em meio a abstrações – nunca sabe como uma obra vai terminar! Pincel e espátula percorrem grandes espaços da tela, através dos mais imprevisíveis percursos. Idéias e tintas fluem livremente, sem qualquer compromisso com mensagens ou estilos.
Aldo Cardarelli, obstinado com o caráter das paisagens e marinhas, esmera-se na interpretação do clima e da hora retratada. Tons exatos e separação das matérias com pesos equilibrados personalizam sua obra com um estilo inconfundível.
Faz-se jus, citar ainda: Edmundo Migliaccio, Giuseppe Servadei, Youssef Traboulsi, Alfredo Rocco e Manuel Navarro, já falecidos, e José Luís Messina, entre outros.
A presente coletânea permite, pela primeira vez, mostrar ao público a obra dos artistas realistas desconhecidos que marcaram definitivamente a História do Realismo Contemporâneo Brasileiro. |